Por LUIS DOLHNIKOFF

Poesia Reunida, da poeta carioca Lélia Coelho Frota (1938-2010), acaba de ser publicada em belíssima edição de capa dura pela Bem-te-vi, com prefácio de Heloísa Buarque de Hollanda e posfácio de Armando Freitas Filho.

LELIAFrota manteve uma produção poética prolífica durante décadas (1956-2006), concentrada neste volume. Normalmente, isto levaria este crítico a se atirar sobre algum poema exemplar, a fim de tentar mostrar ao leitor de que matéria poética se trata.

Mas sua extensa obra sugere outra abordagem ou oportunidade: a de também discutir, no pouco espaço aqui possível, a situação atual da poesia.

Sua poesia tem “qualidades” (entre aspas não por ironia, mas porque talvez insuficientes, como se verá). Além disso, seu lirismo, associado ao gênero feminino, parece agradar um pequeno público fiel, o que é algo a ser respeitado –principalmente no quadro atual de recepção de poesia.

Lembro do latino Horácio: “A poesia quer deleitar ou instruir”. E a poesia da autora parece “deleitar”. O problema está no “instruir”. Pois, a partir dos modernismos, os poetas se tornaram, para o bem e o mal, pesquisadores de sua linguagem, afastando o público médio na tentativa de se aproximar da vida contemporânea.

Poetas como Drummond, Cabral e Vinicius souberam, em seguida, incorporar as novas conquistas poéticas e recuperar o público perdido pelo primeiro modernismo. Então, houve as vanguardas dos anos 1950-60 (momentosas, mas pouco lidas pelo público não especializado) e, depois, o fim das vanguardas. Os próprios poetas perderam o rumo –o público também.

Mas certa memória da poesia pré-modernista persistia: a prova é Chico Xavier, o mais popular poeta do país. Seu Parnaso de além-túmulo, que “psicografa” poetas do passado, conta, em muitas reedições, com 100 mil exemplares vendidos.

A poesia de Frota ocupa lugar entre o puro passadismo desinformado do público popular de Xavier e o saudosismo apesar-da-informação de certo público urbano –que não quer ver na poesia um duro campo de teste da linguagem verbal, mas o doce lugar onde reencontrar a “expressão de sentimentos” conhecidos, em uma linguagem reconhecível:

“Sobre a mesa o relógio
anuncia meu tempo
que se desfaz em crivo
de aflito pensamento.
De que jardins me evado
de que amores provenho
de que enredo impreciso
se armara o que estou sendo…”
(pág. 71).

É poesia bem feita, de quem domina o ofício, mas que, apesar disso, nada anuncia de seu tempo.


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Poesia Reunida
1956-2006
Lélia Coelho Frota

Editora: Bem Te Vi
Quanto: R$ 120
(528 págs.)
Onde: Livraria Saraiva

 


 

Fonte: Folha de S. Paulo