por Vanessa Barbara

Clássico indiscutível da literatura americana, “O Grande Gatsby”, de F. Scott Fitzgerald, é considerado pela crítica um romance “discursivamente perfeito e inesgotável” (segundo Tony Tanner), com estilo, caracterização e enredo “perfeitamente equilibrados para atingir um fim altamente coeso” (Harold Bloom).

Cena do filme "O Grande Gatsby", baseado no clássico homônimo do escritor F. Scott Fitzgerald

Cena do filme “O Grande Gatsby”, baseado no clássico homônimo do escritor F. Scott Fitzgerald

É um dos grandes livros do século, mas não foi sempre assim: em 1925, data de sua publicação original, amargou vendas decepcionantes e uma recepção crítica quase indiferente, vagamente positiva.

Scott Fitzgerald morreu praticamente esquecido, em 1940. Seu obituário no “New York Times” fala em “promessa de uma carreira brilhante jamais cumprida”. Só no fim da década, através de sucessivas reedições e ensaios acadêmicos, a obra foi ganhando espaço na tradição literária.

O crítico Harold Bloom considera Jay Gatsby o maior personagem da literatura americana. É um herói vulnerável em busca de um ideal, um gângster romântico que se torna vítima da própria obsessão. Sua imagem no escuro, de pé, esticando os braços para a luz verde do outro lado da baía, é poderosa o suficiente para permear todo o livro. Não por acaso ele demora em aparecer no romance e, quando o faz, é somente através dos olhos do narrador, Nick Carraway.

Diz o crítico Tony Tanner que essa imprecisão ou “insubstancialidade ontológica” do personagem é parte essencial da mágica do livro, não podendo, portanto, ser reduzida a uma caricatura. Jay Gatsby é propositalmente indistinto, alguém que se aproxima e some, fica nítido e embaçado, um desafio para o ator que se proponha a representá-lo.

No papel, DiCaprio foi precedido por Alan Ladd, numa adaptação desastrosa de 1949, e por Robert Redford, no famoso longa de 1974.

Mas ele não é necessariamente o personagem central da obra, que possui também um narrador forte e moralmente ambíguo, além do casal Daisy e Tom Buchanan, descuidados e indiferentes. Apesar dos inúmeros elementos cinematográficos do texto, não é uma adaptação fácil nem de interpretações óbvias.

 

Fonte: Folha de S. Paulo