FrühstückImagem: Torsten Schon

Muito se diz sobre a suposta importância vital que teria a primeira refeição do dia para a manutenção de uma dieta saudável. Por consequência, é comum o pensamento de que um café da manhã balanceado ajude no controle do peso, podendo levar até mesmo ao emagrecimento.

Segundo esta visão, quem não come nada logo que acorda sente mais fome ao longo do dia, e vai compensar a falta de calorias com outros alimentos, muitas vezes não tão saudáveis. “A verdadeira relação entre comer café da manhã e o peso corporal, se é que existe, ainda é uma questão aberta”, disse o doutor David Allison em entrevista publicada hoje no site do New York Times. Autor de um estudo que saiu no The American Journal of Clinical Nutrition, Allison é também diretor do Centro de Pesquisa em Nutrição e Obesidade da Universidade do Alabama.

O artigo sustenta que grande parte das pesquisas médicas sobre o tema são influenciadas por um princípio conhecido como “viés de confirmação”. Em poucas palavras, o efeito consiste em uma tendência muito comum de refutar informações que contradigam a própria hipótese, selecionando apenas os dados que a sustentem. “Cientistas são humanos, também são suscetíveis ao ‘viés de confirmação’”, explicou Allison.

Junto com colegas, o doutor constatou que o único estudo mais aprofundado e confiável sobre o assunto foi publicado em 1992, e gerou uma série de citações imprecisas em artigos posteriores. A maioria defendia explicitamente a relação entre o consumo de café da manhã e a inibição do ganho de peso, enquanto a primeira pesquisa apenas concluía que o principal fator para o emagrecimento eram as mudanças de rotina no desjejum matutino.

Allison critica fortemente a cultura da produtividade no meio acadêmico. “Estamos fazendo estudos que têm pouco ou nenhum valor. Estamos gastando tempo, intelecto e recursos, convencendo as pessoas sobre coisas sem de fato gerar evidências”. Para esclarecer melhor esta realidade, o doutor usou uma metáfora: “da mesma forma que padeiros assam pães, cientistas escrevem artigos, e são recompensados por publicá-los”.

 

Fonte: Revista Galileu