Países não têm amigos, apenas interesses. Essa clássica definição foi usada por muitos líderes políticos ao longo da história em frases de efeito.

Large Man Looking At Co-Worker With A Magnifying Glass(Imagem: © Images.com/Corbis)

Dois nomes que logo surgem à mente são o presidente francês Charles de Gaulle (1890-1970) e o estadista britânico Lord Palmerston (1784-1865), que produziram versões muito citadas dessa ideia. Ou seja: vale tudo quando se trata de proteger o interesse nacional, inclusive espionar países no momento “amigos” ou mesmo os que sempre o foram.

Basta lembra que Israel montou redes de espionagem para obter segredos nos Estados Unidos, incluindo dados militares confidenciais. E sem os EUA Israel teria tido grandes dificuldades para sobreviver ao confronto com um mundo árabe imensamente maior desde a criação do Estado judaico em 1948. Os Estados Unidos são o maior “amigo” de Israel. Mas os dois lados sempre se espionaram. Informação útil e relevante nunca é demais.

Um incidente rendeu até mortos e feridos. Um navio de guerra americano, USS Liberty, estava nas costas de Israel aparentemente “espionando”, isto é, captando sinais de rádio e radar, quando foi atacado por forças israelenses durante a Guerra dos Seis Dias em 1967. Morreram 34 americanos, 171 ficaram feridos.

Israel alegou que foi um erro. Muitos sobreviventes do navio alegaram que o ataque foi deliberado, pois ele estava claramente identificado como americano e navegando em águas internacionais.

Que o Brasil tenha espionado diplomatas estrangeiros não é pecado; pecado é ser flagrado fazendo a coisa. Pega mal. Se confirmado sem dúvidas, pode fazer com que os espionados peçam uma satisfação diplomática, um pedido de desculpas. Embora esteja claro que esses países “vítimas” também espionam o resto do mundo. Rússia, Irã e EUA estão longe de ser inocentes no tema!

Eu pessoalmente me lembro de um “diplomata” de país da Europa oriental que me contatou algumas vezes em busca de informações sobre o programa brasileiro de compra de um novo caça (F-X, hoje F-X2) e sobre as colaborações do Brasil na área espacial. Não comentei com ele nada que não fosse conhecido, não quebrei a lei passando informações confidenciais. Não tenho talento para ser espião. Nem quero saber se paga bem…

Existem vários tipos de atividades que podem ser considerados “espionagem”, algumas legítimas. Buscar informações na imprensa, na internet, ajuda a criar um banco de dados sobre países e pessoas, e é legal.

Vasculhar as ondas de rádio e as transmissões do “inimigo” ou do “amigo” era algo tradicional antes mesmo da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Checar e-mails confidenciais, fazer escutas, é outra história. Mas faz parte do jogo. Só não vale ser pego com a mão na massa.

 

Fonte: Folha de S. Paulo